"...E as teias que vidram nas janelas

esperam um barco parecido com elas

Não tenho barqueiro nem hei-de remar

Procuro caminhos novos para andar



E É a pronúncia do Norte

Corre um rio para o mar..."


segunda-feira, 26 de julho de 2010

Saramago…até morto causa polémica !




O assunto que está na base deste post é relativamente recente e apesar de não ter gerado grandes ondas na comunicação social nacional (pelo menos que me tenha apercebido, mas confesso que também estive algo alheado às TV’s e jornais), tem vindo a alimentar algumas conversas aqui na cidade e arredores e também na blogosfera. Refiro-me à não aprovação pela Câmara Municipal do Porto (CMP) de uma proposta da CDU que visava agraciar Saramago com a atribuição do seu nome a uma rua e assim efectuar uma homenagem póstuma. Muito se foi dito contra e a favor da decisão da CMP e gostaria também de opinar sobre o assunto.

Sou da opinião que uma cidade deve dar aos nomes das suas ruas, toponímia que agracie pessoas que, com as suas acções, tiveram um papel de relevo na cidade ou então figuras que gerem consenso a nível nacional. Penso que Saramago não se encontra em nenhuma das duas categorias que atrás evoquei pelo que não condeno a CMP pela atitude tomada.

Da última vez que consultei a biografia de Saramago, não julgo ter encontrado lá o Porto como local de nascença ou local permanente de residência do escritor. Penso também não estar a cometer num erro histórico ao afirmar que Saramago fez pouco, ou mesmo quase nada, pela cidade do Porto e pelos portuenses. Foi ainda este português que defendeu uma união ibérica, o que na eventualidade de se vir a concretizar, seria uma vergonhosa traição contra todos os homens e mulheres que deram a vida ao longo de séculos para definir as fronteiras do nosso território e para desenvolver uma identidade nacional.

É ainda Saramago que está associado a diversas polémicas, umas mais estéreis que outras. Se por um lado as polémicas com o clero, não passam para mim de fait-divers entre aqueles que querem denegrir a Igreja e os que a procuram defender de qualquer maneira, polémicas como a exoneração de jornalistas no DN, põem a nu as dificuldades do nosso escritor em lidar com opiniões diferenciadas das suas.

Para além destas polémicas caseiras, Saramago esteve ligado a inúmeras questiúnculas a nível internacional, como por exemplo, a sua opinião em 2007, sobre o presidente da Venezuela, na qual afirma que “Chávez não é de nenhum problema" mas sim, "um homem que ama seu povo”.

Apesar de tudo, é inegável o sucesso alcançado por Saramago a nível literário e por isso certamente merecedor de homenagens. Julgo que as mesmas devem é ser feitas, por exemplo na terra onde nasceu, no território português de Lanzarote onde Saramago viveu boa parte dos seus dias ou então em eventos literários.

Não faltaram decerto homenagens à Saramago por este país fora. Por isso querer fazer desta recusa da CMP, uma questão essencial, como aparenta ser desejo dos partidos da oposição aqui na cidade, é que já custa a compreender visto que existem na cidade problemas mais graves e essenciais que carecem de um maior empenho de todas as forças políticas para serem definitivamente resolvidos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

História à moda do Porto -Tripeiros e as tripas



Mais um capítulo dedicado a acontecimentos históricos ou figuras que tenham levado a nossa cidade a bom porto ! Hoje irei temperar esta crónica com o sabor magnífico de um belo prato de tripas à moda do Porto. Apesar de me considerar um bom garfo, degustar partes menos nobres dos animais fez-me sempre alguma confusão e fui sempre olhando para tal comida com desprezo e algum desdém. Até que provei as tripas :)

Abençoado dia em que tive tamanha felicidade pois fiquei fã. Daí a procurar informação sobre a sua confecção foi um pequeno passo e deparei-me com um texto fantático no site da Confraria das Tripas, texto esse que é uma cópia de um artigo publicado na revista "O Tripeiro" no já longíncuo ano de 1909 ! Um texto centário portanto que tenho o maior gosto de partilhar aqui no meu blogue :

"O desconhecimento completo de um facto da história portuense, passado quando reinava D. João Primeiro, dá frequente motivo a que, quando alguém muito esperto pretende zombar de um filho da cidade do Porto, lhe atire desdenhosamente à cara com a alcunha de tripeiro, como se fora o mais ignominoso insulto.
O Portuense, conhecedor do facto ri-se e em vez de manifestar descontentamento por tal alcunha, desnorteia o contendor acceitando-a com legítimo orgulho.
Dos nossos comtemporâneos, poucos serão os que não possam de prompto citar o facto histórico, senão em todas as suas particularidades, ao menos pela rama.

Não obstante, vamos recordal-lo, um pouco pela satisfação de sermos descendentes d'aquelles honrados portuenses que há 943 annos e um pouco para elucidação dos estranhos que o não conheçam ou dos nossos que o tenham esquecido. Eil-lo: As primeiras expedições guerreiro marítimas que deviam collocar tão alto o nome lusitano e contribuir para o engrandecimento do poderio territorial do paíz pelas terras d'alem mar, já que nas do continente tinham ido até ao extremo as possibilidades d'essa expansão, devem-se às suggestões do infante D. Henrique, filho de D. João I.

Annunciado o aprecebimento da primeira expedição a Ceuta, os burgueses do Porto mal o souberam, não desmentindo a sua fama de audazes e intrépidos, quizeram os primeiros a cooperar no grandioso sonho do infante, e à sua custa, apparelharam uma poderosa armada de mais de setenta embarcações, que em pode sair galhardamente pela barra do Porto fora em busca de glória para a a nação e mais um forão para a coroa real.

Para abastecer tão numerosa esquadra não foi das mais apoucadas a generosidade dos nossos conterrâneos. Não quiz ella que a falta de víveres pudesse crear obstáculos ao bom êxito da aventura. Abateu um enorme numero de cabeças de gado bovino com cuja carne limpa abasteceu prodigamente as dispensas das embarcações, de modo que chegassem para longo prazo, e reservou para a alimentação dos que ficaram os miudos do gado, as tripas, como vulgarmente se lhes chama, com que se cosinha o celebre prato culinario muito apreciado dos portuenses.

Eis ahi a origem do honrosos apodo de tripeiros."

E para terminar, que a boca já está a salivar como se já não houvesse amanhã, fica aqui a receita para 10 pessoas (sim toca a reunir a família, ou pelo menos parte dela, e comer até não poder mais...):

Ingredientes
:
• 1 kg de tripas de Vitela (compreendendo livros ou folhos, favos e touca )
• 1 mão de vitela
• 150 g de choriça de carne
• 150 g de orelheira
• 150 g de toucinho entremeado ou presunto
• 150 g de salpicão
• 150 g de carne de cabeça de porco
• 1 frango ou meia galinha
• 1 kg de feijão manteiga
• 2 cenouras
• 2 cebolas grandes
• 1 colher de sopa de banha
• 1 ramo de salsa
• 1 folha de louro
• sal e pimenta

Confecção:
Lavam-se as tripas muito bem e esfregam-se com sal e limão. Cozem-se em água e sal. Limpa-se a mão de vitela e coze-se.

Noutro recipiente cozem-se as restantes carnes e o frango. Estas carnes tiram-se à medida que vão cozendo.

Coze-se o feijão já demolhado com as cenouras às rodelas e uma cebola aos gomos.
Pica-se uma cebola e estala-se uma colher de banha. Juntam-se todas as carnes, cortadas em bocados (incluindo as tripas, o frango, enchidos, etc. ). Deixa-se apurar um pouco e introduz-se o feijão. Tempera-se com sal, pimenta preta moída na altura, o louro e a salsa. Deixa-se apurar bem.

Retira-se a salsa e serve-se em terrina de barro ou louça, polvilhados com cominhos, salsa picada e acompanhado com arroz branco seco.

Para quem quiser saber mais, e quiçá ser elevado ao grau de confrade: