"...E as teias que vidram nas janelas

esperam um barco parecido com elas

Não tenho barqueiro nem hei-de remar

Procuro caminhos novos para andar



E É a pronúncia do Norte

Corre um rio para o mar..."


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal



Para todos vós, os meus votos de um Santo e Feliz Natal na companhia daqueles que vos são mais queridos !

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Natal Portuense - Sons Made in Porto

Mais sugestões de prendas natalícia, novamente com o selo de qualidade Made in Porto, como não podia deixar de ser!

Desta vez irei sugerir 3 cd’s editados este ano por bandas portuenses, cada uma, dentro do seu estilo, referências no que bom se vai fazendo na indústria musical portuguesa.



Começando pelo rock, penso que qualquer amante deste estilo não ficará defraudado com o novo cd dos Blind Zero, liderados pelo carismático Miguel Guedes, que embora tenha uma sonoridade mais pop e alegre que os registos anteriores da banda, não deixa de ser um disco repletos de belas canções. Para além dos singles já editados ("Snow Girl" e "Slow Time Love") e que rodaram com insistência nas rádios, “Luna Park” possibilita a audição de momentos como “Hanging Wall”, “Loose Ends” ou “Back to the fire”. No albúm homogéneo, onde praticamente todas as canções têm conteúdo para ser singles, “Luna Park” revela-se um disco que se ouve com prazer.



Numa área mais pop, estão com qualidade assinalável há mais de 30 anos, os grandes GNR conduzidos por um dos artistas portugueses mais genialmente provocadores que dá pelo nome de Rui Reininho. “Retropolitana” procura marcar, tal como o trocadilho com o nome do álbum quer demonstrar, o regresso dos GNR ao que de melhor fizeram nos anos 80 e inícios dos anos 90. Quem ouvir “Clube dos Encalhados” ou “Outra X”, por exemplo, sentirá que esse regresso foi de facto conseguido, e o álbum mais recente dos GNR é sem sombra de dúvida um dos melhores da banda nos últimos 15 anos e onde Rui Reininho continua a mostrar o poeta provocador que existe dentro no seu interior.



Novo género musical e nova banda portuense que dá cartas: não é à toa que os Mind da Gap são considerados os pais do Hip-Hop português. Com o novo álbum, “A Essência”, os Mind da Gap sobem mais um degrau na excelência musical e lançam aquele que para mim é o registo mais completo, equilibrado e interessante da sua carreira. Com letras acutilantes e bem escritas e com uma sonoridade exemplar e homogénea, o colectivo portuense mostra mais uma vez que o seu talento é incomparavelmente maior que determinados artistas estrangeiros que incompreensivelmente conseguem vender mais que no nosso país. Se puderem espreitem “A Essência”, “Sintonia” ou “Carpe Diem” e já ficam com uma ideia claro do que podem esperar neste álbum.

3 grandes bandas portuenses...3 expoentes da música nacional...É só meter os cd’s a rodar e curtir o som...Momentos de prazer musical estão certamente garantidos.

Boas músicas !!!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Natal Portuense - Porto em azul e branco



Ontem começou o Advento e com ele aquele o corrupio próprio de uma época do ano onde se tenta esquecer a crise e presentear as pessoas que mais nos dizem com mimos natalícios. Neste blog, e na rubrica Natal Portuense, irei sugerir algumas prendas, que como não podia deixar de ser, estão umbilicalmente associadas à Mui Nobre e Leal Cidade Invicta.

No passeio que dei ontem pela Baixa, dei de caras, nas livrarias que visitei, com um livro da autoria de Hélder Pacheco, intitulado “Porto em azul e branco”, editado pelas Edições Afrontamento. Para apresentar o livro, nada melhor a descrição que encontrei no blog do autor : Crónicas sobre o Futebol Clube do Porto, escritas por um autor que não só não nega a sua condição de aficcionado, como, simultaneamente, faz dela parte da sua identidade. Aqui podemos encontrar as memórias do autor, as glórias do clube, misturadas com os pregões que os adeptos vão soltando durante as partidas.

Hélder Pacheco é autor de algumas das mais importantes obras sobre a cidade do Porto, além de escrever regularmente em jornais e revistas. Natural de freguesia da Vitória, é actualmente professor de História Social e Cultural do Porto, investigador das culturas populares do Porto e escritor e cronista do Jornal de Notícias e da revista Sítios e Memórias.

Folheando o manuscrito em questão e observando atentamente as fotografias, fui desportivamente invadido por uma onda de nostalgia dos inúmeros jogos presenciados in-loco no mítico Estádio das Antas e acometido igualmente por uma vontade imensa de recuar imediatamente no tempo, para uma altura em que a apesar de algumas dificuldades, a felicidade e a alegria imperavam nos mais diversos sectores da sociedade portuense.

Em relação à prosa de Hélder Pacheco, não posso emitir uma opinião visto que apenas me deliciei a observar as referidas fotos, mas não tenho dúvida que a qualidade dos textos será idêntica à das fotografias, pelo não hesito em recomendar este livro a todos os que gostam de futebol, de história e principalmente a todos aqueles que têm o seu coração tatuado eternamente com o símbolo do mais apaixonante clube de Portugal.

O blog do autor pode ser encontrado aqui. Nele é possível encontrar a capa do livro, que também reproduzo como ilustração deste post, que permitirá facilmente identificar o livro numa livraria perto de si. Por exemplo, na Livraria Lello e na renovada Livraria Latina, é fácil encontrar o livro, pois a este é dado o destaque merecido. Em relação ao preço, posso assegurar que ronda os 30€.

Boas leituras.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mais uma distinção literária !



Depois de ter sido eleita como local ideal para férias por uma revista argentina da especialidade (podem recordar aqui), nova distinção vem cobrir a cidade do Porto com palavras elogiosas. Desta vez a honra vai toda para um dos edifícios emblemáticos da nossa cidade; a sua livraria mais conhecida e famosa por esse mundo fora. Refiro-me claro à Livraria Lello e à atribuição, pela conceituada editora Lonely Planet (conhecida pelos seus bons guias de viagem), do título de terceira livraria mais bonita do mundo, feito já alcançado em 2008 num ranking então elaborado pelo jornal britânico 'The Guardian'.

É mais um motivo de alegria para todos os portuenses e mais uma prova que no estrangeiro não andam a dormir, e pouco e pouco vão dando ao Porto o valor e a projecção que a cidade de facto merece. Imbuindo deste espírito literário, é com satisfação que faço uma pequena homenagem à Livraria Lello neste meu cantinho.

Para quem não sabe, a Livraria Lello situa-se na Rua das Carmelitas no número 144, ao cimo da Torre dos Clérigos e quase a chegar à Praça dos Leões, tendo o edifício actual sido inaugurado a 13 de Janeiro de 1906. No entanto, antes disso já se respirava tradição literária nesta zona da cidade pois em 1869 havia sido fundada por Ernesto Chardron, na Rua dos Clérigos, a Livraria Chardron. Como consequência do inesperado falecimento, aos 45 anos de idade, do fundador, foram diversos os proprietários que a livraria conheceu entre 1869 e 1894.

Em 1894 o imóvel foi vendido a José Pinto de Sousa Lello, que se dedicava ao comércio e importação de livros, possuindo já uma outra livraria na cidade, na Rua do Almada, em sociedade com o seu cunhado David Lourenço Pereira. Por morte deste último, José Pinto de Sousa Lello constituiu sociedade com o seu irmão António Lello, passando a livraria a designar-se Lello & Irmão, Lda.

O edifício actual, de carácter ecléctico, com fachada neogótica distinguida como Património Mundial, foi desenhado pelo engenheiro Francisco Xavier Esteves, destacando-se fortemente na paisagem urbana envolvente. A fachada apresenta um arco abatido de grandes dimensões, com entrada central e duas montras laterais. No segundo registo, três janelas rectangulares ladeadas por duas figuras pintadas por José Bielman, representando a Arte e a Ciência, respectivamente. Uma platibanda rendilhada remata as janelas, e a fachada termina em três pilastras encimadas por coruchéus, com vãos de arcaria de gosto neogótico. A decoração é complementada por motivos vegetais, formas geométricas e a designação "Lello e Irmão", sobre as janelas.

No interior, os arcos em ogiva apoiam-se nos pilares em que o escultor Romão Júnior esculpiu os bustos de escritores como Antero de Quental, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro, sob baldaquinos rendilhados, de linguagem neogótica. O grande vitral, onde se pode ler a divisa "Decus in Labore", é uma das marcas mais significativas da livraria, pelas dimensões e riqueza de tons; tal como a escadaria de grandes dimensões, de acesso ao 1º piso, e os tectos trabalhados.

Um conjunto em que a arquitectura e os elementos decorativos deixam transparecer o estilo dominante naquele início de século. De facto, a Livraria Lello é um dos mais emblemáticos edifícios do neogótico portuense, ainda que ligeiramente tardio, mas em perfeita actualidade com algumas das tipologias estéticas da época, a que a literatura não foi alheia. A sua inauguração em 1906 causou um grande impacto cultural na cidade, tendo comparecido entre outros, Guerra Junqueiro, Afonso Costa e José Leite de Vasconcelos. A imprensa referiu-se-lhe com largo desenvolvimento, havendo a registar a cobertura feita pelos jornais A Voz Pública, O Primeiro de Janeiro, O Norte, Diário da Tarde, Jornal de Notícias, O Comércio do Porto e A Palavra, todos portuenses, e ainda, da capital, O Mundo, O Século, o Diário de Notícias, Correio da Europa, Ocidente. No Brasil a repercussão deste acontecimento propalou-se pelos jornais Gazeta de Notícias, do Rio de janeiro e pelo famoso periódico O Estado de S. Paulo.

Infelizmente com o passar dos anos e com um assustador distanciamento que os portugueses parecem demonstrar pelos livros, mas que felizmente tem vindo a ser combatido, a Livraria Lello foi perdendo o fulgor mas com uma grande vontade de não desistir e adaptar-se aos novos tempos, assistiu-se em 1994 ao restauro e modernização do seu interior - entretanto desgastado pelo tempo - quer pela remodelação dos seus núcleos de serviço, atendendo as solicitações actuais do mundo do livro e do público em geral.

A Livraria Lello de hoje não é uma FNAC (felizmente) mas não deixa de oferecer uma panóplia de serviços e actividades que merecem ser destacadas. Um fundo bibliográfico com mais de 60 000 títulos, um ficheiro informático que permitirá a identificação de qualquer obra editada em Portugal ou em país estrangeiro, desde que ligado à rede Edilivros (via telemática), uma secção de revistas periódicas e de especialidade, uma secção reservada a CD’s alinhados por áreas musicais e outra de livros antigos, com inestimável valor, organizada com, os fundos da antiga Livraria Chardron, são alguns das mais-valias que este espaço emblemático oferece.

Juntemos a isso uma Galeria de Arte permanente e de tertúlia entre intelectuais e estamos sem dúvida perante um dos pólos da vida cultural portuense, que merece a atenção e o carinho de todos nós. Apenas sinto que falta a este relevante espaço cultural uma página web que seja condizente com a imponência e importância da Livraria Lello e que possa servir como veículo extra de divulgação desta bela livraria em Portugal e no Mundo.

Como curiosidade, refiro que os restantes dois lugares do pódio foram ocupados pela livraria norte-americana City Lights Books sediada em São Francisco e pela argentina El Ateneo Grand Splendid sediada em Buenos Aires. A classificação completa pode ser encontrada aqui.

E agora que o Natal se aproxima a passos largos lanço um desafio. Se forem como eu, que acaba sempre por encontrar num livro uma boa prenda para oferecer a alguém, que tal deixar os insossos centros comerciais e fazer a compra na Livraria Lello? Não só oferecem um livro, como estão também a oferecer um presente com um intenso cheiro literário a cultura made in Porto.

Alguém aceita o meu desafio?

Boas leituras.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Destino cruel

Quem tem, por questões profissionais, que arriscar a sua vida diariamente sabe que o destino poderá ser particularmente cruel nas situações de cumprimento do seu dever, para o próprio e para a sua família e amigos. Infelizmente isso sucedeu na noite do passado sábado a um chefe dos Bombeiros Sapadores do Porto, que faleceu, no cumprimento do seu trabalho, vítima de uma derrocada num prédio devoluto na zona histórica da cidade.

O chefe Correia de 52 anos, 28 dos quais passados na corporação portuense, não resistiu aos ferimentos graves sofridos aquando da queda de um alpendre de um prédio contíguo ao prédio onde os sapadores tentavam extinguir um incêndio. As tentativas de reanimação, revelaram-se infrutíferas e o óbito foi mesmo confirmado no local do acidente.

De acordo com o referido na imprensa, o prédio que ardeu, embora estivesse devoluto era ocupado clandestinamente por toxicodependentes e traficantes de droga. A proprietária do imóvel já havia sido alertada, pela Junta de Freguesia de Santa Maria da Vitória, para esta situação ilegal e que, face à natureza dos seus habitantes e respectivos hábitos, era catalogada com um barril de pólvora que mais cedo ou mais tarde podia explodir.

Infelizmente, a proprietária deste imóvel fez sempre ouvidos de mercador às queixas da população da zona e o indesejado desfecho teve o seu epílogo este sábado. Urge agora encontrar explicações e aplicar um castigo severo a quem prevaricou e que, embora involuntariamente, acabou por ser responsável pela morte deste soldado da paz, que deixa para trás uma mulher e 3 filhos, o mais novo dos quais com apenas 7 anos.

Para além de punição exemplar que a justiça terá de aplicar e que será um gota de água no oceano de tristeza que invadiu a família do chefe Correia, este caso tem de servir de exemplo para todos os proprietários de imóveis devolutos na cidade do Porto, que procuram constantemente fechar os olhos e deixar que o tempo vá debilitando a estrutura dos prédios, ao mesmo tempo que estes vão sendo ocupados pelos marginais.

Que este triste acontecimento sirva igualmente para a Câmara do Porto desenvolver uma política mais pró-activa na identificação dos imóveis em risco na cidade, e inclusive promover a sua demolição caso os respectivos proprietários se recusem a efectuar os melhoramentos essenciais.

À família do chefe Correia apresento as minhas condolências. Desejo que o seu falecimento não tenha sido em vão, esperando que quem de direito ponha a mão na consciência e aja a tempo de evitar novo desenlace trágico.

Finalizo este post com um excerto de um poema (que não é da minha autoria) e que reflecte bem os sentimentos que me atravessaram quando soube da notícia e que tiveram nova réplica com a escrita deste artigo.

Sentem o perigo a todo o momento
Andam sem a noção do tempo
Nada lhes mete medo
Temem unicamente pela vida de outrem
Arriscam sempre mesmo sem esperança
Rir e chorar faz parte do dia a dia
Enfrentam o perigo com um sorriso nos lábios
Mesmo que isto signifique a morte.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

STOP Sr. Sócrates


Neste blog, como pode ser consultado aqui, já tinha alertado contra o facto de se estar a assistir a um grande roubo, com constantes desvios dos fundos destinados ao Porto e ao norte do país para benefício de instituições lisboetas e respectiva região metropolitana.

Ora bem, ontem ficou-se a saber, pode ser lida aqui a notícia que o confirma, que a UE proibiu o nosso 1º Ministro de desviar os fundos do TGV da linha Porto-Vigo para Lisboa.

Como ponto prévio, devo opinar sobre a necessidade de um TGV no nosso país. Parece-me uma obra demasiadamente megalómana e desajustada ao tamanho e importância económica do nosso país no contexto europeu. Quem já teve a oportunidade de ir a França ou Alemanha, compreende a necessidade de existir um transporte que possibilite uma ligação fácil e rápida entre cidades, que estando separadas por distâncias consideráveis, são efectivos pólos de negócio e oportunidades de emprego. Acresce a esse facto, a importância histórica que os meios de transporte, que não o carro, vão tendo nesses países, onde a rede de transportes públicos é verdadeiramente eficaz e cumpridora dos horários e por isso uma alternativa credível para as pessoas simultaneamente serem mais amigas do ambiente e do seu próprio bolso.

Em Portugal, infelizmente e como consequência do centralismo bacoco e mesquinho que vai engolindo o resto do país, assistimos a uma confluência das grandes marcas, dos grandes negócios e das grandes oportunidades para uma cidade apenas. Juntemos a esse facto, a fraca utilização e o prejuízo que a CP vai tendo ao longo dos anos e penso que estamos conversados sobre a utilidade do TGV. Se as pessoas acham caro gastar quase 90€ (ida e volta para ir do Porto a Faro), alguém aceitará pagar bem mais que isso só para andar de TGV? As pseudo-socialites do nosso burgo talvez…Mas o grosso da população certamente que não hesitaria em fazer, a alta ou a baixa velocidade, um manguito.

O dinheiro que irá(?) será gasto numa rede de TGV, seria na minha óptica melhor empregue na remodelação da linha férrea nacional, da forma a possibilitar, por exemplo, que o Alfa Pendular possa circular na totalidade do seu percurso perto da sua velocidade de ponta, o que não sucede actualmente em muitos troços, onde a sua velocidade está limitada a 60/70 kmh.

Mas mesmo achando que o TGV é uma obra que se assemelha a um brinquedo que um menino mimado pede pelo Natal porque já não se consegue satisfazer com mais nada, acolhi esta notícia que vem de Bruxelas com uma grande satisfação. Finalmente alguém mete nos eixos os trafulhas que lideram a nossa nação. Penso que não tardará muito para que novo puxão de orelhas chegue do centro da Europa, pois deve estar para ser conhecido o veredicto relativo às ex-SCUT’s interposto pelos nossos vizinhos galegos.

Este STOP às discrepâncias governamentais só é pena vir tão tarde. Era bom que Bruxelas pudesse também intervir noutros assuntos, pois estou certo que a esta hora, os governantes actuais e alguns anteriores, já teriam as suas orelhas em carne viva após todas as reprimendas de que certamente seriam alvo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

FC Porto - a vencer desde 1893



Depois de um fim-de-semana pessoalmente desastroso, pelo menos as últimas horas de domingo foram capazes de trazer alguma paz ao meu espírito que andava a passear tristemente nas ruas da amargura...Bibó Porto Carago !!!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

História à Moda do Porto - Cheias de 1909



Na ressaca deste fim-de-semana prolongado, onde a chuva, por vezes diluviana, caiu sem dar grandes tréguas, decidi pesquisar um pouco sobre as cheias no Douro e resolvi postar aqui um pequeno retrato das grandes cheias de 1909.

A tragédia, que bateu à porta dos portuenses no Natal de 1909, revelou-se como uma das maiores a atingir a cidade no século XX, provocando 8 mortes directas mas sendo responsável pelo suicídio de alguns mais, que vendo-se na miséria, optaram por terminar abruptamente com a sua sorte.

Com efeito, desde os começos de Dezembro que o Porto e toda a região duriense estavam debaixo de um verdadeiro dilúvio, com a chuva a cair incessantemente, empapando de água os campos de cultivo e engrossando o volume das águas dos pequenos rios e ribeiros afluentes do Douro que, ao desaguar neste, mais contribuíam para o aumento do caudal.

As crónicas da época não deixam dúvidas quanto ao tempo que se fazia sentir naquele Inverno de 1909, como se pode inferir do seguinte relato: "… o vendaval cada vez se torna mais forte; sopra rija ventania de sudoeste que está a provocar grande razia nas árvores da Cordoaria e do Passeio Alegre…".

Como a chuva não parasse de cair e o caudal do rio continuasse a aumentar, o Departamento Marítimo do Norte encerrou a barra no dia 20, impedindo a entrada e saída de navios e ordenou que se reforçassem as amarras dos que estavam ancorados junto das duas margens.

No dia 20 aconteceu o que há muito se previa: uma subida brusca das águas. Sem barragens para conterem a sua fúria e domesticarem a bravura das suas águas, o Douro obedecendo apenas à Natureza, ia galgando avidamente as margens e no dia 22 o cais de Monchique já estava alagado. Para além disso, a fábrica do Gás, situada em frente ao cais onde se embarcava para a Afurada, foi igualmente invadida pelas águas, e a cidade, que era iluminada a gás, ficou imersa na mais profunda escuridão.

No dia 23 a chuva parou de cair mas o caudal do rio continuou a aumentar. E subiu tanto que à uma hora da tarde desse dia estava a escassos oitenta centímetros do tabuleiro inferior da Ponte Luís I. Temeu-se o pior, ou seja, que a subida das águas continuasse e a força da corrente acabasse por derrubar o tabuleiro e com ele (pensava-se) a própria ponte. Numa tentativa de evitar essa catástrofe chegou a pensar-se em demolir o tabuleiro de baixo por meio de cargas explosivas. Felizmente essa medida drástica não teve que ser tomada.

Na manhã do dia 24 a cheia retrocede e no dia seguinte o Sol brilha radioso. Podia-se enfim, dar atenção ao Natal e aos desafortunados moradores ribeirinhos que tinham ficado sem lar, embora o caudal do Douro continuasse a causar algumas apreensões, porque, como escreveu um cronista que foi testemunha de muitos desses acontecimentos, "…o rio barrento, escuro, ruidoso, de aspecto lúgubre, sem aliás deixar de oferecer certa grandiosidade, ia arrastando nas águas revoltas tudo o que encontrava na passagem…".

Os prejuízos materiais e humanos, nas duas Ribeiras, a do Porto e a de Gaia, resultantes desta cheia foram devastadores. Entre vapores de carga, chalupas, iates, patachos, barcos de pesca e de recreio, afundaram-se ou saíram barra fora, desgovernados, por efeitos da enchente, nada mais, nada menos do que quarenta embarcações e mais treze rebocadores. Morreram oito pessoas, entre as quais figuravam três barqueiros e cinco tripulantes, incluindo o capitão, de um navio alemão que se afundou. Perderam-se também, de forma irremediável, mais setecentas pequenas embarcações entre caíques, barcaças e saveiros.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Estádio Do Dragão em Lego - IPO Porto



Caros leitores,

Não tenho tido muito tempo para postar sobre alguns temas mas vi no site do JN uma reportagem-vídeo que não posso deixar passar sem a mencionar! Por isso que se lixe o chefe e o trabalho…e que venha o post :-)

Convém referir que aqui no trabalho não tenho permissões para assistir a vídeos e por isso este post não versará o conteúdo exacto da reportagem mas antes realçará o motivo e todos aqueles intervenientes que estiveram na génese da notícia.

Uma das instituições que mais admiro na cidade é sem dúvida o IPO e em particular a sua aula de pediatria. Fico sempre emocionado quando vejo as notícias sobre as crianças com cancro, pois sinto que têm de ser obrigadas a crescer demasiado depressa sendo confrontadas com sentimentos e emoções que deveriam estar arredadas da vida de qualquer criança.

É por isso sem surpresa, que as visitas dos seus ídolos (especialmente do desporto e da televisão) são momentos em que se esquece o sofrimento e em que a felicidade e a alegria irrompem das suas jovens faces, proporcionando-lhes encontros que a memória se encarregará de guardar como se fossem o mais precioso dos tesouros.

Infelizmente não é possível aos ídolos estarem sempre presentes, pelo que o extraordinário trabalho de todos os envolvidos, desde médicos a enfermeiros passando pelos briosos voluntários e demais profissionais que me possa ter esquecido (não conheço o funcionamento do IPO) mas que certamente não se cansam de ajudar as crianças, se reflecte na procura de actividades que possam abrilhantar os dias dos mais jovens e transmitindo-lhes conforto e esperança num futuro melhor.

Neste contexto, a “Projecto Construir”, o IPO do Porto e o Futebol Clube do Porto, desafiaram as crianças da ala pediátrica a construir uma réplica do Estádio do Dragão em peças Lego. A “Projecto Construir” é uma associação de intervenção social portuense, que procura através de actividades lúdicas e didácticas apoiar indivíduos institucionalizados, com especial destaque para as crianças.

Aplaudo de pé esta iniciativa! Na impossibilidade de verem ao seu lado o Hulk, o Falcao ou o Helton, julgo que deve ser emocionante para as crianças, participar em conjunto num projecto que terá como resultado final uma reprodução em ponto pequeno mas extremamente fiel, como se pode inferir da imagem do vídeo ou da foto publicada no site da “Projecto Construir”, do local onde os seus ídolos costumam jogar à bola!

Para além do aspecto emocional associado a este projecto, o recurso à técnica de construção de modelos com peças LEGO tem, para a “Projecto Construir”, o intuito de aumentar a auto-estima, a auto-disciplina, a motivação para o trabalho colaborativo e a concentração, tornando-se um meio de dinamização dos resultados dos tratamentos, no caso de crianças institucionalizadas em estabelecimentos de saúde, ou na actividade de reinserção social no caso de outras instituições.

Esta notícia surgiu numa altura em que curiosamente ando a preparar um post sobre o voluntariado na cidade do Porto. Todos os casos que tenho vindo a descobrir e mais este belo exemplo, são para mim provas que a sociedade ainda vai sendo composta por pessoas honestas e de um carácter extraordinário que procuram confortar, na medida do possível, quem passa pelas mais diversas adversidades.

Em relação a este projecto do estádio, é também nestes momentos em que fico orgulhoso em ser Portista. Ter o FCP como parceiro desta louvável iniciativa é para mim uma alegria indescritível e reafirma o papel social que o clube mais representativo da cidade tem obrigatoriamente de desempenhar no seu burgo.
Felizmente que não é o 1ºcaso de solidariedade azul e branca para com os portuenses e não só. Nós portistas estamos habituados a ver o nosso presidente, os nossos dirigentes e atletas a confortar corações e a proporcionar sorrisos.

Os links importantes para quem tiver interessado:

Reportagem do JN


“Projecto Construir”
(aqui podem ser encontrados, para além de informações sobre a instituição, mais detalhes sobre o projecto do estádio)

Antes de terminar gostaria de agradecer a todos os intervenientes neste projecto e de desejar, a todas as crianças internadas no IPO, vítimas de guerra, de abusos e de todas as fatalidades e injustiças em que o mundo e a sociedade são pródigos, uma palavra de esperança num futuro melhor.

O meu OBRIGADO por não desistirem de lutar pela vida!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Porto: Apreciados lá fora…Desprezados cá dentro !

Na passada 4ª feira tive a oportunidade de assistir a um concerto de uma das minhas bandas favoritas: os lendários Guns N Roses. Infelizmente, e à semelhança do que acontece com a maioria dos grandes eventos musicais que aconteceu por solo nacional, o concerto teve lugar em Lisboa pelo que para além do bilhete somaram-se todos os custos inerentes à viagem…e lá ficou o bolso mais leve mas a alma bem satisfeita com um concerto fabuloso!

Por esta altura devem estar a questionar, o que raio tem a ver este início de post com o conteúdo habitual do blog. Ora bem, um concerto realizado em Lisboa tem logicamente uma esmagadora maioria de espectadores oriundos daquela zona geográfica. No intervalo que mediou a actuação dos Guns e o concerto da banda de abertura, tive a infelicidade de presenciar um momento que me deixou incrédulo.

Num grupo maioritariamente feminino, uma das moçoilas opinou sobre algo e de pronto foi interrompida por uma amiga (?), acusando-a de falar com um sotaque esquisito à Porto. Essa sujeita repetiu essa observação mais duas ou três vezes até que a amiga (?) pediu desculpa afirmando que agora tinha muitos colegas do Porto e poderia estar a apreender a sua maneira de se expressar.

Fiquei manifestamente incomodado e comecei a falar à Porto com a minha namorada, mandando algumas bocas que a circunstância exigia, e esperava, quiçá imbuindo de um espírito demasiado sonhador, que a lisboeta se desculpasse pelo tom odioso com que tinha repreendido a amiga. Facilmente adivinharão que isso não aconteceu.

Infelizmente, esta atitude de repúdio pelo Norte e pelo Porto em particular, não é uma novidade mas julgo que temos assistido com bastante frequência a episódios que procuram denegrir a imagem da cidade e dos que nela habitam.

Um exemplo desta cruzada pode ser encontrado no futebol. Ainda na semana passada, o presidente de um clube de futebol foi recebido por um governante para pedir medidas de protecção especial quando a equipa lisboeta tiver que jogar fora de casa e tiver como destino, ou ponto de passagem, a cidade do Porto. O mesmo presidente prometeu surpresas, caso o autocarro fosse novamente alvo de arremessos de pedras ou outros objectos.

É óbvio que o que têm sucedido aquando das mais recentes visitas desse clube lisboeta à Mui Nobre e Leal cidade, não é próprio de um país civilizado. Mas também é importante não esquecer aquilo que sucede com os atletas, dirigentes e adeptos do FCP quando vão jogar na região da grande Lisboa. Fazer do Porto a região mais perigosa do País e fazer ameaças vãs, qual general de um qualquer país totalitário do terceiro mundo, é querer passar uma mensagem de rancor que invariavelmente terá um resultado nefasto.

Não sou um santo, pois também costumo gozar com o sotaque de Lisboa, nomeadamente o das tias de Cascais. Mas sempre na brincadeira, sem qualquer tipo de sentimento negativo associado. E julgo que não sou apenas eu a brincar com essa pronúncia. Mas tenho a certeza que nunca vi ninguém a demonstrar uma aversão tão grande a uma pronúncia regional, como aquela a que eu assisti no pavilhão atlântico.

Em contraponto a esta crescente repugnância nacional por tudo o que é nortenho e portuense, deixo aqui um artigo publicado no matutino inglês “Telegraph”.

Embora já tenha lido elogios mais bonitos à nossa cidade (e que publiquei aqui) e não concorde com opinião do autor relativa à indicação dada de não fazer compras na Rua 31 de Janeiro em virtude do seu elevado declive, é sempre agradável verificar que a nossa Cidade vai sendo falada no estrangeiro e eleita como um local aprazível para férias.

Ao menos lá fora, não existem energúmenos a irritar-se com a nossa pronúncia.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

História à moda do Porto - Joaquim Guilherme Gomes Coelho aka Júlio Dinis



“Era uma das ultimas noites do carnaval de 1855.

Havia menos estrellas no céo, do que mascaras nas ruas. Fevereiro, esse mez inconstante como uma mulher nervosa, estava nos seus momentos de mau humor; mas, embora; o folgazão entrudo ria-se de taes severidades e dançava ao som do vento e da chuva, e sob o docel de nuvens negras que se levantavam do sul. Graças á cheia do Douro, a cidade baixa podia bem prestar-se n'aquella época a uma parodia do carnaval veneziano.”


Esta curiosa descrição do Carnaval de 1855 é, para os mais fervorosos adeptos da literatura portuguesa do século XIX, facilmente identificável. Foi redigido por um dos mais ilustres escritores nacionais e um portuense, que embora tenha morrido sem ter completado os 32 anos de vida, conseguiu, com as suas obras, o reconhecimento dos leitores ao longo dos séculos.

Falo obviamente do grande Joaquim Guilherme Gomes Coelho, mais conhecido pelo seu pseudónimo literário (Júlio Dinis), que para além de escritor foi igualmente médico e professor. Nascido no Porto a 14 de Novembro de 1839 na antiga Rua do Reguinho, não teve a mais fácil das infâncias, uma vez que logo aos 6 anos foi confrontado com a morte da sua mãe, vítima de tuberculose. Aliás, essa terrível doença, foi a responsável pela sua própria morte e dos seus 8 irmãos.

Após concluir o Liceu, matriculou-se na Escola Médico-cirúrgica do Porto em 1861. Finalizado o curso, desejou seguir a carreira de professor. Concorreu ao lugar de demonstrador na escola onde se tinha formado, mas apenas à 3ª tentativa logrou sucesso. Estávamos em 1865.

Cinco anos antes, em 1860, e dando asas ao gosto que sempre tinha demonstrado pela literatura, utilizou pela primeira vez o pseudónimo Júlio Dinis, quando enviou textos de poesia para a revista Grinalda. Embora ninguém o conhecesse, esses poemas foram um tremendo êxito junto dos leitores. Joaquim utilizou ainda o pseudónimo Diana de Aveleda para assinar pequenas narrativas (de que são exemplos “Os Novelos da Tia Filomena” e o “Espólio do Senhor Cipriano”,) que entregou ao Jornal do Porto.

Com vontade de escrever prosa, e inspirado ora pelos ambientes rurais (na sua grande maioria), ora por ambientes citadinos, Júlio Dinis criou algumas das obras mais lidas e marcantes da literatura portuguesa. “As Pupilas do Senhor Reitor”, “Uma Família Inglesa” ou “A Morgadinha dos Canaviais” são exemplo de títulos que não só acompanham o nosso imaginário, como também foram lidos pelos nossos avós, bisavós e tetravós, e certamente que farão parte da biblioteca dos nossos filhos ou netos. Obras de carácter intemporal, que não tendo sido agraciadas com prémios Nobel, propiciam certamente muito mais gozo na sua leitura do que alguns livros que obtiveram a referida distinção.

Atendendo à época em que viveu, seria natural situar Júlio Dinis no período do ultra-romantismo. Porém devido à influência do seu pai, também médico, e à sua educação científica, o escritor tinha uma visão do mundo mais real e verdadeira do que aquela que era característica dos autores ultra-românticos. O mais comum é identificar Júlio Dinis como o precursor da corrente literária conhecida como Realismo-Naturalismo, que teve em Eça de Queirós um dos seus mais distintos representantes.

Joaquim Guilherme Gomes Coelho morreu na madrugada do dia 12 de Setembro de 1871, na Rua Costa de Cabral na casa de uns primos, vítima de uma doença (tuberculose) que o foi enfraquecendo ano após ano, pese embora todas as tentativas de cura em ambientes rurais (Ovar e Funchal). Embora não tenham tido resultados significativos, esses curas de ares serviram de alavanca para a predominância dos ambientes rurais em detrimento dos ambientes citadinos, nos seus livros.

Dado o carácter intemporal das suas obras, não é de estranhar que o escritor tenha sido alvo de diversas homenagens póstumas. Na cidade do Porto, destacam-se a existência de uma rua com o seu nome (Rua Júlio Dinis), assim como busto em bronze, da autoria de João da Silva, financiado por subscrição pública, inaugurado em 1926 no Largo da Escola Médica, hoje denominado Largo Professor Abel Salazar. Júlio Dinis é ainda o nome da conhecida maternidade portuense situada no Largo da Maternidade.

Fica de seguida a listagem das suas principais obras e respectivas datas de edição:
•As Pupilas do Senhor Reitor (1867)
•A Morgadinha dos Canaviais (1868)
•Uma Família Inglesa (1868)
•Serões da Província (1870)
•Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871)
•Poesias (1873)
•Inéditos e Esparsos (1910)
•Teatro Inédito (1946-47)

Para quem não conhecer ou para quem quiser recordar, deixo dois links de ebooks. Uma ajuda preciosa dos tempos informáticos em que vivemos, mas que nunca conseguirá substituir a deliciosa sensação de desfolhar um livro!!!

A Morgadinha dos Canaviais

Os Fidalgos da Casa Mourisca

Boas leituras !!!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

SCUT’s…e a anedota continua

Prezado leitor, prossigo no meu blog a luta contra a introdução das SCUT’s. Já em posts anteriores tive a oportunidade de fincar a minha posição, que no entanto irei recordar. Concordo com o princípio universal do utilizador pagador; no entanto, tendo os nossos extraordinários decisores optado há alguns anos atrás por criar as SCUT’s, penso que aplicar impostos de circulação em estrada supostas de utilização grátis, é no mínimo anedótico! Justifico isso com o facto da isenção de pagamento ter permitido o desenvolvimento de inúmeros sectores, algo a que seria difícil de se assistir se desde o início as portagens tivessem sido uma realidade.

Imbuído desse espírito anedótico, ontem o secretário de Estado das Obras Públicas não se fez rogado e em conferência de imprensa mostrou a sua capacidade para ombrear com qualquer cómico da nossa praça. Anunciou que no Grande Porto, vamos começar a ficar com os bolsos e a carteira mais leve a partir de 15 de Outubro. Soube-se igualmente, embora já fosse esperado, que vai haver isenções para uns, descontos para outros e comer e calar para uma imensa maioria. Penso que o ridículo nunca foi tão longe e para o demonstrar tentarei colocar o leitor na pele de duas personagens distintas.

Imagine o leitor que vive em Gaia e se pretende deslocar em trabalho para Paços de Ferreira. Seguindo pela A41/A42, vai pagar portagens, sem beneficiar de qualquer desconto ou isenção pois não é residente na capital do móvel ou arredores. Pelo contrário, se o leitor residir em Paços de Ferreira e se deslocar de e para o Gaia, a viagem pela A41/A42 já poderá ser feita com os privilégios acima citados. Isto é, dois portugueses, com o mesmo veículo e o mesmo trajecto, vão pagar valores diferenciados. Citei este exemplo, mas facilmente poderia escolher outras 2 localidades que espelhassem a rebaldaria que virá.

Ou seja, passamos de uma situação em que todos os utilizadores saiam beneficiados, para uma situação em que os privilégios apenas são concedidos a alguns. O caricato desta medida é tal, que se não fosse a gravidade da situação daria para rir às gargalhadas. Infelizmente, o caso não está para grandes celebrações e/ou manifestações de alegria.

Para além da patética discriminação que vai existir entre pessoas a viverem na mesma região metropolitana, a disparidade entre portugueses manter-se-á durante alguns meses, pois como se ficou a saber também ontem, o prazo para entrada em vigor do pagamento das SCUT’s não é igual para todas as regiões de Portugal.

Continuo a repetir, se é para pagar, temos de pagar todos. Agora andar com estas benesses só para garantir uns votos extra nas próximas eleições é que é vergonhoso!

Desafortunadamente porém, é certo que alguns eleitores irão cair na esparrela!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

AllPorto.? Não obrigado. PORTO sempre !

“O que muito viaja aumenta a sua sagacidade. Muita coisa vi nas minhas viagens, o meu conhecimento é maior do que as minhas palavras” (Texto bíblico)

Uma das mais recentes aberrações feitas à nossa estimada língua foi, para além do abrasileirado e vergonhoso acordo ortográfico que nos querem impingir, um golpe publicitário governamental e institucional que resolveu estrangeira a palavra Algarve e acrescentar-lhe mais um l, dando origem ao famigerado termo que serve de mote a um programa que pretende animar e dinamizar a região mais a sul de Portugal: Allgarve.

Sendo o Algarve a região que mais turistas atrai ao nosso país e a que recebe mais turistas portugueses, a criação do referido programa assemelha-se ao Robin dos Bosques do turismo mas com um intuito diametralmente oposto: neste caso desviam-se apoios que deveriam ser utilizados para fomentar o turismo em regiões mais desconhecidas, para promover o sul de Portugal, que já tem a sua quota-parte de hordas de turistas.

Infelizmente, todos nós sabemos que as mentes brilhantes que comandam a nossa Nação vão, constantemente, ano após ano, descansar (sim, porque eles trabalham imenso em prol dos 10 milhões de concidadãos) para o Algarve. Como se não existissem outras regiões bonitas no país. É óbvio que esta migração política a que se assistisse anualmente para o sul do país, tem como consequências programas como Allgarve e a dificuldade com que os nossos decisores se debatem para cobrar portagens nas SCUT’s algarvias, quando para a zona do Grande Porto a facilidade de decisão foi impressionantemente rápida e sem permitir opiniões discordantes.

Felizmente, existem noutros países pessoas que sabem que Portugal não é só o Algarve e Lisboa. Uma prestigiada revista de viagens argentina que em 2010 festeja os 20 anos de publicações, resolveu comemorar essa efeméride escolhendo 20 razões para viajar. O primeiro motivo dessa lista, segundo esta laureada revista, é a mui nobre e bela cidade Invitcta! Imagine-se que o Porto ficou à frente de lugares exóticos e massivamente publicitados como por exemplo a Polinésia Francesa!

Apenas por uma questão do acaso, tomei conhecimento desta escolha argentina. Ao contrário do que sucede quando por exemplo é elaborado um qualquer ranking de qualidade de vida (e Lisboa faz parte da lista), o alarido que esta notícia despertou, na nossa subserviente comunicação social e nos nossos talentosos políticos, foi ensurdecedoramente silencioso. Tal não é de estranhar, pois foi o Porto a ser distinguido e não o AllPorto!

A distinção obtida pelo Porto, o número crescente de turistas que optam por descobrir a nossa bela Cidade, o Minho e/ou as demais zonas do Norte de Portugal, têm vindo a sofrer um aumento consolidado ao longo dos últimos anos, pese embora a publicidade, feita pelos organismos nacionais, além fronteiras a estas regiões seja diminuta quando comparada com o que se gasta para promover o Allgarve. No entanto, o advento da sociedade da informação em que vivemos, permite o fácil acesso a informações, que não sendo de índole e organismos oficiais, despertam a curiosidade nos turistas e resultam na escolha do Porto e arredores como local para férias.

Viajar e conhecer novas culturas, mas sem esquecer o que de belo nós temos entre portas, é um vício que me orgulho de ter. Considero Paris, Londres ou Viena locais muito belos, da mesma maneira que não digo que não a um passeio até Chaves, Óbidos, Monsanto, Coimbra, Miranda do Douro e por aí fora.

A distinção que a revista argentina atribui ao Porto só me pode deixar extasiado de alegria. Por ser a minha cidade; por ter percorrido grande parte das suas ruas a pé vezes e vezes sem conta; pela beleza cénica que envolve a nossa urbe; pelos majestosos monumentos que a compõem; pela honestidade e pelo bem saber receber típico dos portuenses. No entanto, toda esta alegria é beliscada ao concluir que para grande parte dos nossos governantes, Almourol deve ficar em Marrocos, Monsanto é apenas um parque de Lisboa ou que Vila Pouca de Aguiar é um apelido de algum pseudo-membro da defunta nobreza portuguesa.

Se houvesse, por parte dos governantes, uma preocupação verdadeira em apresentar aos estrangeiros, e inclusive aos próprios portugueses, Portugal como sendo um todo e não apenas o Algarve e Lisboa, não tenho dúvidas que venceríamos mais prémios como aquele com que o Porto foi agraciado. Julgo que todos aqueles que conhecem minimamente Portugal, concordarão quando afirmo que temos um país belo, que em nada fica a dever aos grandes centros turísticos mundiais. O que necessitamos é que se governe sem palas nos olhos!

O melhor fica para o fim. A lista da revista Lugares pode ser encontrada aqui.

Bons passeios!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Vamos ajudar Lisboa, a cidade mais pobre de Portugal!



Durante as férias de Agosto, os Portuenses e por que não dizê-lo, até todos os portugueses, foram presenteados com uma notícia, cujo conteúdo não sendo uma novidade (em virtude de já terem acontecido no passado situações semelhantes), deixou muita gente incrédula e a pensar se não seria mais uma notícia própria da silly-season.

Infelizmente de silly, a notícia só tinha o conteúdo uma vez que a veracidade da mesma é indesmentível. De tão verdadeira que é, que sem grande surpresa da minha parte, mereceu um reduzidíssimo destaque na nossa pobre comunicação social, sempre pronta a prestar vassalagem aos interesses instalados na capital.

Que famigerada notícia é essa, estarão por certo a perguntar os leitores?

Sem mais demoras, segue-se o link para leitura ponderada da mesma pelos possíveis interessados.

Como se pode constatar da leitura atenta da notícia, foram desviados fundos das regiões mais pobres de Portugal (das quais infelizmente o Porto e o Norte fazem parte) para encher os bolsos, por natureza já a transbordar, de Lisboa. Correndo o risco de me repetir, e pedindo prévia desculpa por incorrer nessa falta, não me canso de afirmar que não é nada que não me surpreenda.

O histórico de constantes assaltos às regiões mais desfavorecidas do nosso burgo, vai-se sucedendo sem que grandes ondas sejam levantadas. Num simples exercício básico de informática, sugiro que o leitor experimente, no espaço de pesquisa de um qualquer motor de busca, colocar a expressão “desvio fundos Lisboa”. A proficuidade com que aparecem resultados associados a esse critério de pesquisa é assustadoramente elevada e reveladora da maneira de se governar e fazer política no nosso pequeno país à beira-mar plantado. Perante todas estas situações que vão sucedendo, urge voltar a repescar o tema da regionalização.

Desafortunadamente, todos nós sabemos o quão difícil essa missão se pode revelar, pois a vontade dos nossos políticos é, salvo honrosas excepções, evitar que se discuta esta matéria. A eventualidade de dividir o país em regiões administrativas apresenta-se aos olhos desses manhosos como factor destabilizador da coesão nacional.

Não podia ser uma opinião mais errada e desajustada, de acordo com o meu ponto de vista. Penso isso sim, que a existência de uma Regionalização, bem estruturada e aplicada, certamente iria funcionar como um precioso auxílio para evitar roubos como estes que constantemente são noticiados e dos quais, aparentemente, não existe ninguém a ser condenado (os verdadeiros condenados acabam por ser as pessoas da regiões mais empobrecidas, que, assistindo desesperadas à constante diminuição do seu poder de compra, são condenados a uma existência cada vez mais dura).

Para mal dos nossos pecados, enquanto a regionalização não for um facto consumado, iremos continuar a assistir a estes assaltos sectários, pois como todos nós sabemos, Lisboa é uma cidade muito pobre e o resto do País vive numa opulência capaz de causar inveja nos 4 cantos do Mundo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Tempo...o cruel inimigo do sonho ?

“Porque o tempo é tão implacável, roubando-nos as oportunidades se não formos suficientemente rápidos para agarrá-las imediatamente?” (Liv Ulmann)



Domingo, 6 de Setembro de 2010 será uma data que jamais esquecerei.

Religiosamente e com esperança em assistir a mais um momento histórico e de glória para a cidade do Porto e para a sua colectividade desportiva mais representativa e amada, desloquei-me com a minha cara metade ao Dragão Caixa para assistir à última jornada do Torneio de Qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões de andebol.

Impossibilitado, por motivos alheios à minha vontade de comparecer aos primeiros jogos deste torneio, foi com moderada satisfação que fui tomando conhecimento dos resultados do FCP nos jogos anteriores. Uma vitória e um empate deixaram tudo adiado para o último dia do Torneio.

A entrada no pavilhão, perto da hora aprazada para o início do desafio, já deixava transparecer o ambiente memorável que se prolongou quase durante 2 horas. Durante todo o jogo, o pavilhão lotado, não se cansou de apoiar os seus atletas, o seu clube e a sua Cidade! Vivi, e penso que felizmente não terei sido o único, momentos de exacerbada paixão clubística e terminei o jogo rouco de tanto gritar!

Escrevinhar algo sobre o sucedido ontem, poderá ser um bálsamo para amenizar a frustração sentida com o não atingir dos objectivos, especialmente quando eles tiveram a milésimos de segundo de se concretizar. Penso que é em momentos como este que paramos um bocadinho para pensar e nos damos conta do quanto qualquer instante da nossa vida e das nossas acções é de importância vital na nossa existência.

Uma fracção de tempo pode fazer de nós heróis ou vilões, pode-nos fazer alcançar o negócio de uma vida ou mergulhar num mar de dívidas sufocante. O tempo, implacável no seu movimento repetitivo e monótono, nunca volta para trás, mesmo que desejemos apagar nem que seja um milésimo de segundo. Pelo contrário, a inflexível linha temporal, a cada milésimo que avança vai-se imiscuindo no nosso ADN, ajudando a moldar a nossa personalidade e o nosso lugar no mundo.

Foi por um milésimo que ontem a Cidade não festejou um feito importante para o desporto portuense e nacional, um milésimo que entrou no nosso espírito e na nossa mente e dela já não sairá.

Obrigado a todos (atletas, treinador e adeptos) que ontem souberam demonstrar inequivocamente a fibra de lutadores, trabalhadores e campeões de que são feitos os verdadeiros portuenses!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

História à modo do Porto - Rua 31 de Janeiro



Nesta edição da rubrica de história do blog, irei-me debruçar sobre a Rua 31 de Janeiro que, para mim, é uma das ruas que mais percorri a pé na cidade ao longo destes 28 anos de vida.

Guardo dela as melhores recordações da minha infância/adolescência nomeadamente da saudosa loja da Valentim de Carvalho, onde após afincadamente poupar o parco dinheiro das mensalidades, adquiria cd’s que ainda hoje me dão um gozo tremendo a ouvir. Também recordo com saudade, a alegria que sentia ao pensar que iria passar nessa Rua e saber que iria parar na montra da Costa Braga & Filhos e vislumbrar estandartes, galhardetes, pins ou bandeiras do FC Porto, sempre com a esperança que a bondade dos meus pais se traduzisse na compra de um desses adereços. O dinheiro não abundava mas mesmo assim lembro-me perfeitamente de num belo dia ter sido presenteado com um pin do maior clube do mundo e que ainda hoje guardo religiosamente! Quem não se recorda ainda das sumptuosas montras da Ourivesaria Machado? Ou da boutique Morgado, com os seus famosos sacos castanhos ?



O arruamento agora designado Rua 31 de Janeiro, foi mandado construir no longínquo ano de 1784 por João de Almada e Melo, que foi o grande obreiro da expansão urbana da cidade do Porto no século XVIII e o principal responsável pela organização da Baixa do Porto. O objectivo era estabelecer uma comunicação cómoda entre o bairro de Santo Ildefonso e o bairro do Bonjardim. O declive entre as extremidades da rua era tal que foi preciso construir um leito sobre túneis que dão ainda hoje passagem de um lado ao outro da rua. Na parte baixa o leito foi edificado em estacaria, por causa da mina do Bolhão que por aí corria para alimentar o convento da Avé Maria de S. Bento. Em 1805, a rua foi finalmente aberta ao público tendo sido designada como Rua Nova de Santo António. Santo António devido à existência da Igreja de Santo António dos Congregados; nova pois já existia uma rua dedicada ao santo, na Picaria.



O nome manteve-se inalterado até à implementação da República em Portugal, altura em que passou a ter a designação que hoje apresenta e que é uma homenagem à revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891, desencadeada como resposta ao Ultimato Inglês de 1890. Os portuenses, incrédulos com as cedências a que o Governo e a Coroa se submeteram por causa do famigerado Mapa Cor-de-Rosa, e adeptos fervorosos da liberdade e do republicanismo, tentaram um levantamento militar na madrugada do dia 31 de Janeiro.



Num momento crucial desse levantamento, a multidão com fanfarras, foguetes e vivas à República decide subir a Rua de Santo António em direcção à Praça da Batalha, com o objectivo de tomar a estação de Correios e Telégrafos. No entanto, o festivo cortejo foi barrado por um forte destacamento da Guarda Municipal, posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso, no topo da rua. O capitão Leitão, que acompanhava os revoltosos e esperava convencer a guarda a juntar-se-lhes, viu-se ultrapassado pelos acontecimentos. Em resposta a dois tiros que se crê terem partido da multidão, a Guarda solta uma cerrada descarga de fuzilaria vitimando indistintamente militares revoltosos e simpatizantes civis. A multidão civil entrou em debandada, e com ela alguns soldados.

Os mais bravos tentaram ainda resistir. Cerca de trezentos barricaram-se na Câmara Municipal, mas por fim, a Guarda, ajudada por artilharia da serra do Pilar, por Cavalaria e pelo Regimento de Infantaria 18, força-os à rendição, às dez da manhã. Terão sido mortos 12 revoltosos e feridos 40.

Alguns dos revoltosos conseguiram escapar, no entanto um grande número foi julgado e o fantasma da condenação desceu sobre inúmeros civis e 505 militares. Seriam condenados a penas entre 18 meses e 15 anos de degredo em África cerca de duzentas e cinquenta pessoas (na imagem alguns revoltosos presos entretidos a ler o jornal num navio rumo a Moçambique). Em 1893, alguns seriam libertados em virtude da amnistia decretada para os então criminosos políticos da classe civil.



Em memória desta revolta, logo que a República foi implantada em Portugal, a então designada Rua de Santo António foi rebaptizada para Rua de 31 de Janeiro, passando a data a ser celebrada dado que se tratava da primeira de três revoltas de cariz republicano efectuadas contra a monarquia constitucional (as outras seriam o Golpe do Elevador da Biblioteca, e o 5 de Outubro de 1910).

No entanto, o nome da rua ainda iria voltar à sua denominação original durante o Estado Novo, tendo recuperado o nome, que homenageia a revolução republicana, após o 25 de Abril.

Mas não só de revoltas e sangue, se conta a história desta rua. De facto, desde a sua abertura ao público e apesar da seu acentuado declive, que a Rua 31 de Janeiro ganhou foros de excelência e se estabeleceu como uma das ruas mais movimentadas e chiques do Porto, até meados dos anos 90 do século XX. Aí começou o declínio, tendo-se assistido ao progressivo encerramento dos estabelecimentos comerciais mais emblemáticos da rua.

Têm sido feitas diversas tentativas para reabilitar e revitalizar esta importante artéria urbana do Porto, de entre as quais posso destacar a reintrodução, em 2007, do eléctrico que para além de ajudar a vencer o declive, tem um potencial turístico considerável.



Infelizmente, por mais tentativas que se façam, a Rua 31 de Janeiro e até mesmo toda a baixa portuense, são vítimas da desertificação que o centro da cidade tem vindo a sofrer, pelo que se torna uma tarefa quase hercúlea recuperar a importância económica que a baixa do Porto (e por conseguinte a Rua 31 de Janeiro) tinha como motor da vida quotidiana da cidade.

No entanto eu, enquanto tiver pernas que me permitam, não deixarei de calcorrear a Rua 31 de Janeiro, para recordar momentos da minha vida, para homenagear os valentes portuenses que ali deram um exemplo de amor à Pátria ou pura e simplesmente para passear.

Quem se junta a mim nessa empreitada ?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Saramago…até morto causa polémica !




O assunto que está na base deste post é relativamente recente e apesar de não ter gerado grandes ondas na comunicação social nacional (pelo menos que me tenha apercebido, mas confesso que também estive algo alheado às TV’s e jornais), tem vindo a alimentar algumas conversas aqui na cidade e arredores e também na blogosfera. Refiro-me à não aprovação pela Câmara Municipal do Porto (CMP) de uma proposta da CDU que visava agraciar Saramago com a atribuição do seu nome a uma rua e assim efectuar uma homenagem póstuma. Muito se foi dito contra e a favor da decisão da CMP e gostaria também de opinar sobre o assunto.

Sou da opinião que uma cidade deve dar aos nomes das suas ruas, toponímia que agracie pessoas que, com as suas acções, tiveram um papel de relevo na cidade ou então figuras que gerem consenso a nível nacional. Penso que Saramago não se encontra em nenhuma das duas categorias que atrás evoquei pelo que não condeno a CMP pela atitude tomada.

Da última vez que consultei a biografia de Saramago, não julgo ter encontrado lá o Porto como local de nascença ou local permanente de residência do escritor. Penso também não estar a cometer num erro histórico ao afirmar que Saramago fez pouco, ou mesmo quase nada, pela cidade do Porto e pelos portuenses. Foi ainda este português que defendeu uma união ibérica, o que na eventualidade de se vir a concretizar, seria uma vergonhosa traição contra todos os homens e mulheres que deram a vida ao longo de séculos para definir as fronteiras do nosso território e para desenvolver uma identidade nacional.

É ainda Saramago que está associado a diversas polémicas, umas mais estéreis que outras. Se por um lado as polémicas com o clero, não passam para mim de fait-divers entre aqueles que querem denegrir a Igreja e os que a procuram defender de qualquer maneira, polémicas como a exoneração de jornalistas no DN, põem a nu as dificuldades do nosso escritor em lidar com opiniões diferenciadas das suas.

Para além destas polémicas caseiras, Saramago esteve ligado a inúmeras questiúnculas a nível internacional, como por exemplo, a sua opinião em 2007, sobre o presidente da Venezuela, na qual afirma que “Chávez não é de nenhum problema" mas sim, "um homem que ama seu povo”.

Apesar de tudo, é inegável o sucesso alcançado por Saramago a nível literário e por isso certamente merecedor de homenagens. Julgo que as mesmas devem é ser feitas, por exemplo na terra onde nasceu, no território português de Lanzarote onde Saramago viveu boa parte dos seus dias ou então em eventos literários.

Não faltaram decerto homenagens à Saramago por este país fora. Por isso querer fazer desta recusa da CMP, uma questão essencial, como aparenta ser desejo dos partidos da oposição aqui na cidade, é que já custa a compreender visto que existem na cidade problemas mais graves e essenciais que carecem de um maior empenho de todas as forças políticas para serem definitivamente resolvidos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

História à moda do Porto -Tripeiros e as tripas



Mais um capítulo dedicado a acontecimentos históricos ou figuras que tenham levado a nossa cidade a bom porto ! Hoje irei temperar esta crónica com o sabor magnífico de um belo prato de tripas à moda do Porto. Apesar de me considerar um bom garfo, degustar partes menos nobres dos animais fez-me sempre alguma confusão e fui sempre olhando para tal comida com desprezo e algum desdém. Até que provei as tripas :)

Abençoado dia em que tive tamanha felicidade pois fiquei fã. Daí a procurar informação sobre a sua confecção foi um pequeno passo e deparei-me com um texto fantático no site da Confraria das Tripas, texto esse que é uma cópia de um artigo publicado na revista "O Tripeiro" no já longíncuo ano de 1909 ! Um texto centário portanto que tenho o maior gosto de partilhar aqui no meu blogue :

"O desconhecimento completo de um facto da história portuense, passado quando reinava D. João Primeiro, dá frequente motivo a que, quando alguém muito esperto pretende zombar de um filho da cidade do Porto, lhe atire desdenhosamente à cara com a alcunha de tripeiro, como se fora o mais ignominoso insulto.
O Portuense, conhecedor do facto ri-se e em vez de manifestar descontentamento por tal alcunha, desnorteia o contendor acceitando-a com legítimo orgulho.
Dos nossos comtemporâneos, poucos serão os que não possam de prompto citar o facto histórico, senão em todas as suas particularidades, ao menos pela rama.

Não obstante, vamos recordal-lo, um pouco pela satisfação de sermos descendentes d'aquelles honrados portuenses que há 943 annos e um pouco para elucidação dos estranhos que o não conheçam ou dos nossos que o tenham esquecido. Eil-lo: As primeiras expedições guerreiro marítimas que deviam collocar tão alto o nome lusitano e contribuir para o engrandecimento do poderio territorial do paíz pelas terras d'alem mar, já que nas do continente tinham ido até ao extremo as possibilidades d'essa expansão, devem-se às suggestões do infante D. Henrique, filho de D. João I.

Annunciado o aprecebimento da primeira expedição a Ceuta, os burgueses do Porto mal o souberam, não desmentindo a sua fama de audazes e intrépidos, quizeram os primeiros a cooperar no grandioso sonho do infante, e à sua custa, apparelharam uma poderosa armada de mais de setenta embarcações, que em pode sair galhardamente pela barra do Porto fora em busca de glória para a a nação e mais um forão para a coroa real.

Para abastecer tão numerosa esquadra não foi das mais apoucadas a generosidade dos nossos conterrâneos. Não quiz ella que a falta de víveres pudesse crear obstáculos ao bom êxito da aventura. Abateu um enorme numero de cabeças de gado bovino com cuja carne limpa abasteceu prodigamente as dispensas das embarcações, de modo que chegassem para longo prazo, e reservou para a alimentação dos que ficaram os miudos do gado, as tripas, como vulgarmente se lhes chama, com que se cosinha o celebre prato culinario muito apreciado dos portuenses.

Eis ahi a origem do honrosos apodo de tripeiros."

E para terminar, que a boca já está a salivar como se já não houvesse amanhã, fica aqui a receita para 10 pessoas (sim toca a reunir a família, ou pelo menos parte dela, e comer até não poder mais...):

Ingredientes
:
• 1 kg de tripas de Vitela (compreendendo livros ou folhos, favos e touca )
• 1 mão de vitela
• 150 g de choriça de carne
• 150 g de orelheira
• 150 g de toucinho entremeado ou presunto
• 150 g de salpicão
• 150 g de carne de cabeça de porco
• 1 frango ou meia galinha
• 1 kg de feijão manteiga
• 2 cenouras
• 2 cebolas grandes
• 1 colher de sopa de banha
• 1 ramo de salsa
• 1 folha de louro
• sal e pimenta

Confecção:
Lavam-se as tripas muito bem e esfregam-se com sal e limão. Cozem-se em água e sal. Limpa-se a mão de vitela e coze-se.

Noutro recipiente cozem-se as restantes carnes e o frango. Estas carnes tiram-se à medida que vão cozendo.

Coze-se o feijão já demolhado com as cenouras às rodelas e uma cebola aos gomos.
Pica-se uma cebola e estala-se uma colher de banha. Juntam-se todas as carnes, cortadas em bocados (incluindo as tripas, o frango, enchidos, etc. ). Deixa-se apurar um pouco e introduz-se o feijão. Tempera-se com sal, pimenta preta moída na altura, o louro e a salsa. Deixa-se apurar bem.

Retira-se a salsa e serve-se em terrina de barro ou louça, polvilhados com cominhos, salsa picada e acompanhado com arroz branco seco.

Para quem quiser saber mais, e quiçá ser elevado ao grau de confrade:

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pinócrates e as SCUT’s




Pela 1ª vez na vida dei por mim a consultar o Diário da República. Dizem que existe uma 1ª vez para tudo na vida e parece que até têm razão!

O motivo para este mergulho no mar de leis e artigos que tenta não fazer naufragar a nossa nação, prende-se com a introdução de portagens nas supostas SCUT’s da zona do Grande Porto. Como utilizador assíduo de uma delas (A42), na qual realizo viagens no mínimo em 4 dias da semana (no mínimo 8 viagens por semana…32 por mês…384 por ano…), e depois de ter ouvido que alguns trajectos iriam estar isentos de mais este imposto (porque já pagamos poucos impostos por exemplo ao adquirir um veículo ou ao abastecê-lo) automóvel, estava na expectativa de ser abrangido por essa benesse. Infelizmente constatei que não. De todas as pseudo SCUT’s, a única que não irá ter troços isentos é a A42.

Causa-me estranheza pois cidades como por exemplo Paços de Ferreira, são baluartes dos poucos postos de emprego que ainda vão subsistindo no Vale do Sousa. Fazer incidir mais taxas sobre estas pessoas, sobre essas empresa é condenar num futuro mais ou menos próximo esta zona do país a uma marginalidade social ainda mais grave que aquela que hoje já existe. Nas minhas frequentes deambulações pelas terras do Vale do Sousa tenho me apercebido de uma pobreza que vai aumentando a cada dia que passa; de uma tristeza que vai invadindo as pessoas e cobrindo as suas casas e os locais onde habitam com um manto de desilusão e angústia que teima em persistir.

Esta aparente distinção entre nortenhos de 1ª classe (os isentos) e nortenhos de 2ª classe (os pagadores) revela-se mais uma incoerência de um processo que nos foi vendido como sendo algo da mais elementar justiça, como parte da nossa obrigação de ajudarmos os velhacos que economicamente têm destruído Portugal e em especial o norte do país. Aliás basta atentar no 2º parágrafo do decreto-lei nº67-A/2010 para nos vir um sorriso à cara com tanta hipocrisia junta:

“A introdução de portagens em auto -estradas onde actualmente se encontra instituído o regime sem custos para o utilizador (SCUT) encontra -se prevista, quer no Programa de Estabilidade e Crescimento 2010 -2013, para obter a necessária consolidação das contas públicas, quer no Programa do XVIII Governo Constitucional, destinando -se a garantir uma maior equidade e justiça social, bem como a permitir um incremento das verbas a aplicar noutras áreas fundamentais das infra–estruturas rodoviárias, tais como a conservação, a segurança e o melhoramento da rede de estradas e a ampliação da rede rodoviária nacional.”

Infelizmente longe de promover uma maior equidade e justiça social, esta introdução de portagens com borlas para uns em detrimento de muitos outros, promoverá isso sim um maior desequilíbrio social em zonas do país que se têm progressivamente afastado dos padrões europeus, e estão, com algum desinteresse confrangedor dos nossos políticos e decisores, na vanguarda quando se fala de regiões europeias pobres e atrasadas. Se existe crise, então deveria ser para todos !!!

Para mim as contas a fazer são fáceis e duras…cerca de 20 € por semana…80€ por mês…960€ por ano…Se aos menos vivesse na pobre região algarvia era rodar à borla…mas como sou portuense e me tenho de deslocar pelo Grande Porto, região rica, pago e não me queixo…tenho alternativas dizem eles…como eu gostava de ver o Pinócrates e seus capangas a deslocar-se para a IKEA, por exemplo, via serra da Agrela e demorar mais uns 15 / 20 minutos até chegar ao destino…

Deste processo das SCUT’s e dos constantes ataques centralistas ao Porto e ao norte, consigo retirar algo de positivo: Ainda bem que não votei neste 1º ministro Pinócrates…

terça-feira, 1 de junho de 2010

Feira do Livro




Tem início hoje a Feira do Livro do Porto de 2010. Nos dias que antecederam esta abertura,sucederam-se situações verdadeiramente surreais com particular destaque para a indefinição sobre o local de realização do evento.

De um lado a Câmara,afirmava ter acordado com a APEL realizar novamente a Feira nos Aliados...Do outro lado a APEL, dando conta do regresso da Feira à Avenida da Boavista. Uma indefinição algo caricata que se foi prolongando no tempo e que era completamente desnecessária.

Sou do tempo da Feira do Livro no Rosa-Mota e mais recentemente nos Aliados. Como apreciador de um bom livro, este é um dos eventos que mais aprecio na nossa cidade, e tive alguma dificuldade em entender a confusão criada quanto à edição deste ano.

Não deixa de ser algo confrangedor assistir a esta aparente falta de coordenação cultural existente no Porto. Uma cidade da dimensão do Porto, e que tem condições para ser o farol da cultura nacional, quer pelo passado criativo e cultural que diversos portuenses fomentaram nas mais distintas áreas, quer por um futuro que se pretende de referência e excelência, não se pode dar ao luxo de ter indecisões como esta que rodeou a Feira do Livro de 2010.

Esta aparente falta de planeamento cultural, digna de um país e de uma cidade do 3º mundo, terá de ser ultrapassada rapidamente para que no futuro situações semelhantes não ocorram.

Pessoalmente prefiro a Feira do Livro nos Aliados em relação à avenida da Boavista. Uma vez que o regresso da feira à Baixa foi considerado um êxito massivo no ano transacto, de acordo com todas as entidades envolvidas, seria um erro estratégico desviá-la do centro da cidade. Embora a reabilitação dos Aliados tenha deixado a Avenida mais despida, continua a ser a sala de visitas da cidade, e por isso, penso que a feira nos Aliados acaba também por ser um evento turístico que quiçá, poderá ser o ponto de partida para muitos turistas (nacionais e internacionais) na descoberta da cidade mais bela do mundo !

Começa hoje e até dia 20, com horário alargado em relação a 2009. Todas as informações podem ser encontradas em:

http://www.feiradolivrodoporto.pt

EU VOU ;)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

História à moda do Porto - Infante D.Henrique

Inauguro hoje a rubrica "História à moda do Porto" com um dos portuenses mais ilustres da nossa História e alguém que sempre povoou o meu imaginário desde as aulas de história do ciclo: o Infante D.Henrique.



Nascido no Porto em 3 de Março de 1394 (uma quarta-feira de cinzas, dia que se considerava pouco propício ao nascimento de uma criança), o Infante foi o quinto filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre.

O infante foi baptizado alguns dias depois do seu nascimento, tendo sido o seu padrinho o bispo de Viseu. Os seus pais deram-lhe o nome Henrique possivelmente em honra do seu tio-avô, o duque Henrique de Lencastre (futuro Henrique IV de Inglaterra).

Da sua infância pouco se sabe, apenas que teve, juntamente com os seus irmãos,como aio um cavaleiro da Ordem de Avis.

Contava apenas 21 anos de idade quando D. João I determinou armá-lo cavaleiro e aos seus dois irmãos D. Duarte e D. Pedro, com as festas publicas de grande solenidade, segundo o costume daqueles tempos. Mas o infante D. Henrique desejava antes receber as armas em verdadeira guerra, para onde o arrastava a sua inclinação e valor.

Por isso, em 1414 convenceu o pai a organizar a expedição a Ceuta, que foi conquistada em 1415, marcando o início da expansão portuguesa. Foi o comandante da frota do Porto, e o primeiro que saltou em terra. No dia 25 do referido mês de Agosto, o seu pai armou-o cavaleiro da ordem de Cristo.

D. João I saiu de Ceuta com a armada em 2 de Setembro seguinte, e pouco dias depois ancorou em Tavira, no meio das jubilosas aclamações do povo. Reunindo ali os seus filhos, declarou querer remunerar-lhes o grande serviço que tinham prestado. Ao príncipe D. Duarte, como herdeiro da Coroa, nada podia oferecer que fosse de maior valor; mas a D. Pedro conferiu-lhe o título de duque de Coimbra, e o senhorio de Montemor-o-Velho, Aveiro e outras terras que daí em diante, por constituírem o apanágio da sua categoria, passaram a denominar-se do Infantado; o infante D. Henrique foi feito duque de Viseu e senhor da Covilhã. O título de duque era então desconhecido em Portugal.

Foi a conquista de Ceuta que vem ainda mais fixar os vagos desejos do infante D. Henrique de desvendar os mistérios do oceano. Portugal, efectivamente, formava nessa época, para o ocidente, o extremo do mundo conhecido. O Infante desde cedo dedicou-se muito ao estudo das Matemáticas, e em especial ao da Cosmografia, quando estas ciências apenas começavam a ser conhecidas na Europa, e que ele fez cultivar em Portugal.

Foi devido a esses estudos, às meditadas informações que alcançou de seu irmão D. Pedro, que viajara na Europa e na Ásia, e à leitura dos escritores antigos, que no seu espírito se formou a certeza de que ao norte do Senegal, então considerado braço do Nilo, existiam povos hereges, que comerciavam entre si. Levar a luz cristã ao espírito desses povos e colher fruto do seu comércio, foi o grandioso plano do infante.

De facto, navios ao seu serviço chegaram pela primeira vez à Madeira em 1419 e aos Açores em 1427, ilhas que foram povoadas por ordem do Infante. Mas este homem de espírito voluntarioso e extraordinária obstinação queria ir mais além. O reconhecimento da costa ocidental africana era um dos seus objectivos. A passagem do cabo Bojador por Gil Eanes em 1434 foi um grande êxito e terminou com os medos ancestrais relacionados com aquelas paragens longínquas. Já tinham sido feitas diversas tentativas para dobrar o cabo, mas os navegantes acabavam sempre por recuar.

Mas não só de êxitos se revestiu a vida do Infante. De facto, foi um dos principais proponentes da conquista de Tânger, que se tentou em 1437 e que terminou de forma trágica devido à prisão e posterior morte no cativeiro do seu irmão, o infante D. Fernando.

Tal facto esmoreceu um bocado a sede de conhecimento do Infante mas as viagens de exploração foram retomadas em 1441, com Dinis Dias a chegar ao rio Senegal e a dobrar o cabo Verde três anos depois. A Guiné é ainda visitada no seu tempo. Até ao ano da morte do Infante D. Henrique, em 1460, a costa africana foi reconhecida até à Serra Leoa.

Apesar de só ter sulcado as ondas do oceano para as suas expedições de conquista em Marrocos, teve o cognome de Navegador, e na verdade bem merecido, porque a ele se deve o primeiro impulso e o grande incitamento das grandes navegações, que tanto contribuíram para o progresso da civilização, que ampliaram tanto o conhecimento do mundo.

Segundo a lenda, o Infante D. Henrique fundou, como governador do Algarve, a mítica “Escola de Sagres”, com relevante importância, mas que nunca existiu no sentido físico, como explica João Oliveira e Costa (director do Centro de História de Além-Mar, da Universidade Nova de Lisboa): “É no Sudoeste algarvio que nasce a caravela dos descobrimentos e alguns dos instrumentos de orientação em alto-mar, que depois foram usados com sucesso. Nessa perspectiva, podemos dizer que houve uma ‘Escola de Sagres’. Não no sentido de um edifício.”

Faleceu em Sagres, solteiro. O seu corpo foi primeiramente depositado na igreja de Lagos, sendo dali trasladado para o convento da Batalha em 1461, pelo infante D. Fernando, seu sobrinho, filho de el-rei Duarte, a quem pouco tempo antes havia constituído herdeiro e adoptara como filho.

Sobre seu o túmulo vê-se a sua estátua de pedra, que em relevo o representa ao natural, vestido de armas brancas e coroado de coroa real entretecida de folhas de carvalho, e uma rosa no meio.

No seu túmulo encontram-se três escudos: o primeiro com as armas do reino de Portugal e as suas, e nos outros dois as insígnias das duas ordens que professara, de Cristo e da Jarreteira. Foram sua divisa uns ramos pequenos, e curtos como de carrasco com seus frutos pendentes, e por mote em língua francesa as palavras: Talent de bien faire. Esta divisa também se vê no túmulo, tendo por baixo numa só linha, em todo o comprimento do túmulo, um epitáfio em letra alemã.

El-rei D. Manuel lhe mandou colocar também seu retrato na estátua de mármore sobre a coluna, que divide a porta travessa da igreja de Belém, como fundador da antiga ermida de Nossa Senhora do Restelo, que existiu primeiro naquele local.

Em 1892 constitui-se uma grande comissão que dedicadamente trabalhou, celebrando-se no Porto, sua terra natal, o centenário do infante D. Henrique com toda a solenidade e brilhantismo. Efectuaram-se as festas nos dias 1, 2, 3 e 4 de Março de 1894, sendo os dias 3 e 4 considerados de grande gala, por decreto de 28 de Fevereiro de 1894. No dia 4 foi solenemente assente a primeira pedra no momento, na praça do Infante D. Henrique, assistindo a esta cerimónia suas majestades el-rei senhor D. Carlos e a rainha senhora D. Amélia, representantes do governo, autoridades, etc. O monumento é obra do escultor Tomás Costa, e inaugurou-se, também com a assistência da família real, em31 de Outubro de 1900.



Na cidade do Porto é possível visitar o local onde nasceu o Infante. A Casa do Infante é tradicionalmente tida como o local de nascimento do Infante D. Henrique, patrono dos descobrimentos portugueses. Trata-se de um conjunto edificado que ocupa uma extensa área da zona ribeirinha do Porto e que foi sofrendo sucessivas alterações aos longo dos tempos. Para mais informações sobre a casa do Infante, nomeadamente horário de abertura e preçário consultar:

Casa do Infante

O Infante D.Henrique foi sem sombra de dúvida um dos vultos mais brilhantes da Idade Média. É o homem que simboliza a glória dos descobrimentos. Considerado por muitos um excêntrico, foi um portuense que se distingui pela sua coragem e ambição ! Houvessem mais infantes agora, e Portugal estaria certamente noutro patamar económico, social e científico !

segunda-feira, 10 de maio de 2010

SCUT's da palhaçda

As SCUT’s foram durante anos bandeira eleitoral, servindo como argumento na sempre manhosa caça ao voto. Volvidos alguns anos, os mesmos que se serviram delas para se sentarem no trono e governarem sem pudor algum, clamam agora pela introdução de portagens nas mesmas, valendo-se do argumento habitual dos últimos tempos, que serve de desculpa para tudo e mais alguma coisa: a tão famosa e medonha CRISE.

Foi pois decidido que as SCUT’s deixem de ser gratuitas, mas pasme-se, tal medida de acerto das contas do país, apenas tem efeito prático nas SCUT’s que circundam o Grande Porto e que têm servido como veículo dinamizador da frágil economia nortenha.

Pode-se discutir o principio do utilizador pagador, que para mim parece-me correcto, desde que ele seja definido inicialmente, aquando da construcção da auto-estrada. O que não se pode é fechar os olhos às promessas feitas anteriormente.

Tendo sido desde o seu início definidas como SCUT’s as auto-estradas que agora ficarão sem esse estatuto, e tendo-se revelado essa gratuidade fulcral para negócios de tão diversas áreas mas todas com acrescido valor económico para o próprio país, é incompreensivel que os governantes de lisboa usem mais uma vez os portuenses e nortenhos para corrigir os erros e falhas nas quais eles parecem ser mestres !

Na eventualidade de as SCUT’s deixarem de o ser, então é da mais elementar justiça que todas, sem qualquer tipo de excepção, passem a ser portajadas. Não faz sentido que uma região (Norte de Portugal) que a cada dia que passa se afasta mais das suas congéneres europeias fique mais sobrecarregada com impostos, enquanto que, por exemplo, o Algarve, região rica e essencialmente de turismo, continue a beneficiar das SCUT’s.

Somos todos portugueses, portanto se querem riscar do mapa as SCUT’s que o façam em todo o território nacional. Cá estaremos, atento e vigilantes, para atirar para cima dos representantes de lisboa, as culpas económicas que inevitavelmente irão resultar das suas brilhantes ideias.

Sem capacidade para descortinar soluções válidas que ajudem o país a manter-se à tona, os lisboetas utilizam-nos a todos como suas bóias de salvação, procurando com a nossa generosidade financeira salvar a sua pele. Não ficarão muito impressionados se alguns de nós tivermos como destino o fundo do mar.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O Porto somos nós !!!

Neste blog pretendo ser uma voz activa da cidade do Porto, procurando destacar em cada mês um assunto político, cultural ou desportivo que tenha contribuido para engrandecer a mui nobre e leal cidade invicta, ou que pelo contrário, se tenha revelado negativo para a história da mais bela cidade do Universo. Será também um espaço para recordar pessoas e/ou momentos que desempenharam um papel fulcral na formação da identidade portuense e portuguesa.

As honras de abertura vão direitinhas para o desporto e para o FCP em particular. É justo dar honras de tema de destaque, à vitória para a Liga Sagres sobre o líder do campeonato e a quem, a esmagadora maioria da comunicação social, desejava um resultado que possibilitasse a conquista do título num dos locais mais emblemáticos da cidade do Porto.

O fedor que emana todos os dias, nos jornais, rádios e revistas, e através dos quais somos bombardeados com constantes provas de Portofobia, foi pelo menos por um dia quebrado e as páginas de jornal já reserbadas para noticiar um feito, que para alguns fedorentos seria semelhante a um orgasmo, tiveram de ser refeitas à pressa.

Por tudo isso e muito mais, foi uma vitória que não valeu apenas 3 pontos. Representou igualmente a garra e determinação de uma região, que teima em ser espoliada e prejudicada pelo centralismo que asfixia o nosso país ! Foi uma vitória contra aqueles que teimam em obrigar-nos a pagar portagens em auto-estradas que pomposamente, os mesmos anunciaram como não tendo custos para os utilizadores.

Por outro lado, foi também uma vitória de todos os verdadeiros portuenses (os que são apenas adeptos dos clubes da cidade de qual são exemplos mais representativos o FC Porto , Boavista, Salgueiros) contra aqueles que se dizem portuenses mas que preferem apoiar um clube que esteve, está e estará sempre conotado com o regime e com as atrocidades económicas que se vao praticando em Porugal em prol da riqueza, não de todos nós mas de uma região apenas.

Para todo nós, verdadeiros portuenses e nortenhos, foi uma alegria imensa ver o FCP representar a cidade e vê-la a suplantar e subjugar uma capital que se queria verdadeiramente nacional, mas que pelo contrário contribui, por exemplo, para aumentar significativamente a taxa de desemprego da região norte.

Enquanto o Boavista e Salgueiros não estiverem de volta aos palcos onde por direito mereciam estar, seria salutar verificar o apoio de todos os verdadeiro portuenses ao FCP nos jogos onde está em causa uma partida PORTO vs lisboa. Ver o Porto triunfar, sentir a revolta de jogadores do FC Porto por tudo o que lhe foi sonegado esta época em virtude da actuação vergonhosa dos campeões dos túneis e seus capangas, é igualmente senti-la como o nosso grito do Ipiranga ! A revolta do verdadeiro povo do Porto, contra todas as injustiças, com que os ignorantes e presunçosos nos têm presenteado ao longo dos anos.

Fica aqui uma palavra de apreço a um adepto boavisteiro, que a caminho do Boavista-merelinense, não se rogou a me acenar festivamente enquanto eu me dirigia a caminho do jogo, sendo ainda 15:30 ! Fosse sempre assim o ambiente de união entre todos os verdadeiros portuenses, e a nossa cidade e os nossos clubes não teriam nunca de se submeter aos invejosos e rancorosos governantes e pseudo-desportistas de lisboa.

Obrigado FC Porto pela vitória, por teres triunfado de forma categórica e contra todas as adversidades que o jogo proporcionou e por teres levado para longe da nossa cidade os festejos da liga dos túneis.

O PORTO somos nós, todos aqueles verdadeiros portuenses que lutamos para engrandecer a nossa cidade, contra o desplante totalitário com lisboa nos quer tratar !