"...E as teias que vidram nas janelas

esperam um barco parecido com elas

Não tenho barqueiro nem hei-de remar

Procuro caminhos novos para andar



E É a pronúncia do Norte

Corre um rio para o mar..."


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Destino cruel

Quem tem, por questões profissionais, que arriscar a sua vida diariamente sabe que o destino poderá ser particularmente cruel nas situações de cumprimento do seu dever, para o próprio e para a sua família e amigos. Infelizmente isso sucedeu na noite do passado sábado a um chefe dos Bombeiros Sapadores do Porto, que faleceu, no cumprimento do seu trabalho, vítima de uma derrocada num prédio devoluto na zona histórica da cidade.

O chefe Correia de 52 anos, 28 dos quais passados na corporação portuense, não resistiu aos ferimentos graves sofridos aquando da queda de um alpendre de um prédio contíguo ao prédio onde os sapadores tentavam extinguir um incêndio. As tentativas de reanimação, revelaram-se infrutíferas e o óbito foi mesmo confirmado no local do acidente.

De acordo com o referido na imprensa, o prédio que ardeu, embora estivesse devoluto era ocupado clandestinamente por toxicodependentes e traficantes de droga. A proprietária do imóvel já havia sido alertada, pela Junta de Freguesia de Santa Maria da Vitória, para esta situação ilegal e que, face à natureza dos seus habitantes e respectivos hábitos, era catalogada com um barril de pólvora que mais cedo ou mais tarde podia explodir.

Infelizmente, a proprietária deste imóvel fez sempre ouvidos de mercador às queixas da população da zona e o indesejado desfecho teve o seu epílogo este sábado. Urge agora encontrar explicações e aplicar um castigo severo a quem prevaricou e que, embora involuntariamente, acabou por ser responsável pela morte deste soldado da paz, que deixa para trás uma mulher e 3 filhos, o mais novo dos quais com apenas 7 anos.

Para além de punição exemplar que a justiça terá de aplicar e que será um gota de água no oceano de tristeza que invadiu a família do chefe Correia, este caso tem de servir de exemplo para todos os proprietários de imóveis devolutos na cidade do Porto, que procuram constantemente fechar os olhos e deixar que o tempo vá debilitando a estrutura dos prédios, ao mesmo tempo que estes vão sendo ocupados pelos marginais.

Que este triste acontecimento sirva igualmente para a Câmara do Porto desenvolver uma política mais pró-activa na identificação dos imóveis em risco na cidade, e inclusive promover a sua demolição caso os respectivos proprietários se recusem a efectuar os melhoramentos essenciais.

À família do chefe Correia apresento as minhas condolências. Desejo que o seu falecimento não tenha sido em vão, esperando que quem de direito ponha a mão na consciência e aja a tempo de evitar novo desenlace trágico.

Finalizo este post com um excerto de um poema (que não é da minha autoria) e que reflecte bem os sentimentos que me atravessaram quando soube da notícia e que tiveram nova réplica com a escrita deste artigo.

Sentem o perigo a todo o momento
Andam sem a noção do tempo
Nada lhes mete medo
Temem unicamente pela vida de outrem
Arriscam sempre mesmo sem esperança
Rir e chorar faz parte do dia a dia
Enfrentam o perigo com um sorriso nos lábios
Mesmo que isto signifique a morte.

Sem comentários:

Enviar um comentário