“O que muito viaja aumenta a sua sagacidade. Muita coisa vi nas minhas viagens, o meu conhecimento é maior do que as minhas palavras” (Texto bíblico)
Uma das mais recentes aberrações feitas à nossa estimada língua foi, para além do abrasileirado e vergonhoso acordo ortográfico que nos querem impingir, um golpe publicitário governamental e institucional que resolveu estrangeira a palavra Algarve e acrescentar-lhe mais um l, dando origem ao famigerado termo que serve de mote a um programa que pretende animar e dinamizar a região mais a sul de Portugal: Allgarve.
Sendo o Algarve a região que mais turistas atrai ao nosso país e a que recebe mais turistas portugueses, a criação do referido programa assemelha-se ao Robin dos Bosques do turismo mas com um intuito diametralmente oposto: neste caso desviam-se apoios que deveriam ser utilizados para fomentar o turismo em regiões mais desconhecidas, para promover o sul de Portugal, que já tem a sua quota-parte de hordas de turistas.
Infelizmente, todos nós sabemos que as mentes brilhantes que comandam a nossa Nação vão, constantemente, ano após ano, descansar (sim, porque eles trabalham imenso em prol dos 10 milhões de concidadãos) para o Algarve. Como se não existissem outras regiões bonitas no país. É óbvio que esta migração política a que se assistisse anualmente para o sul do país, tem como consequências programas como Allgarve e a dificuldade com que os nossos decisores se debatem para cobrar portagens nas SCUT’s algarvias, quando para a zona do Grande Porto a facilidade de decisão foi impressionantemente rápida e sem permitir opiniões discordantes.
Felizmente, existem noutros países pessoas que sabem que Portugal não é só o Algarve e Lisboa. Uma prestigiada revista de viagens argentina que em 2010 festeja os 20 anos de publicações, resolveu comemorar essa efeméride escolhendo 20 razões para viajar. O primeiro motivo dessa lista, segundo esta laureada revista, é a mui nobre e bela cidade Invitcta! Imagine-se que o Porto ficou à frente de lugares exóticos e massivamente publicitados como por exemplo a Polinésia Francesa!
Apenas por uma questão do acaso, tomei conhecimento desta escolha argentina. Ao contrário do que sucede quando por exemplo é elaborado um qualquer ranking de qualidade de vida (e Lisboa faz parte da lista), o alarido que esta notícia despertou, na nossa subserviente comunicação social e nos nossos talentosos políticos, foi ensurdecedoramente silencioso. Tal não é de estranhar, pois foi o Porto a ser distinguido e não o AllPorto!
A distinção obtida pelo Porto, o número crescente de turistas que optam por descobrir a nossa bela Cidade, o Minho e/ou as demais zonas do Norte de Portugal, têm vindo a sofrer um aumento consolidado ao longo dos últimos anos, pese embora a publicidade, feita pelos organismos nacionais, além fronteiras a estas regiões seja diminuta quando comparada com o que se gasta para promover o Allgarve. No entanto, o advento da sociedade da informação em que vivemos, permite o fácil acesso a informações, que não sendo de índole e organismos oficiais, despertam a curiosidade nos turistas e resultam na escolha do Porto e arredores como local para férias.
Viajar e conhecer novas culturas, mas sem esquecer o que de belo nós temos entre portas, é um vício que me orgulho de ter. Considero Paris, Londres ou Viena locais muito belos, da mesma maneira que não digo que não a um passeio até Chaves, Óbidos, Monsanto, Coimbra, Miranda do Douro e por aí fora.
A distinção que a revista argentina atribui ao Porto só me pode deixar extasiado de alegria. Por ser a minha cidade; por ter percorrido grande parte das suas ruas a pé vezes e vezes sem conta; pela beleza cénica que envolve a nossa urbe; pelos majestosos monumentos que a compõem; pela honestidade e pelo bem saber receber típico dos portuenses. No entanto, toda esta alegria é beliscada ao concluir que para grande parte dos nossos governantes, Almourol deve ficar em Marrocos, Monsanto é apenas um parque de Lisboa ou que Vila Pouca de Aguiar é um apelido de algum pseudo-membro da defunta nobreza portuguesa.
Se houvesse, por parte dos governantes, uma preocupação verdadeira em apresentar aos estrangeiros, e inclusive aos próprios portugueses, Portugal como sendo um todo e não apenas o Algarve e Lisboa, não tenho dúvidas que venceríamos mais prémios como aquele com que o Porto foi agraciado. Julgo que todos aqueles que conhecem minimamente Portugal, concordarão quando afirmo que temos um país belo, que em nada fica a dever aos grandes centros turísticos mundiais. O que necessitamos é que se governe sem palas nos olhos!
O melhor fica para o fim. A lista da revista Lugares pode ser encontrada aqui.
Bons passeios!
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